terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Embriago-me desse teu cheiro de rio





Lambuzado em teu sabor de tacacá. Tomo a liberdade cabana para me declarar. Sou amarrado nesse teu olhar, mesmo que em minha direção seja enviesado. Empavono-me desse teu jeito de mulher conquistadeira/rebelde/Parideira/trabalhadeira, Mãe, Avó, Madrinha, Companheira resistente como as castanheiras e mangueiras...

Não sei se vais gostar, mas vou-me declarar em público, é que não agüento mais reprimir esse negócio, essa comichão no meu peito, isso dura há muito tempo. Vou declarar essa paixão que carrego em mim há muito tempo. Ah! Não lembras quando naquela vez pisquei pra ti, foi bem ali na feira do açaí e tu nem sequer me deste bola, nem se quer um sorriso, dizendo que também tava a fim.

Sei que és muito paquerada, sei que muitos te galanteiam quase toda hora. Sim, sei que andas meio encabulada por isso. Mas não ter preocupa, não vou sentir ciúmes/possessivo, e se sentir não vou dar mancada. Sentirei sim uma dose de vaidade em te namorar.

Desde quanto isso acontece em mim? Virgem, isso desde quando desembarquei em teu porto/colo, sim, acho que naquele que fica lá pras bandas da Estrada Nova. Um daqueles qualquer... Mas, o meu amor por ti foi à primeira vista. Sei que vão falar de minha paixão por ti, vão querer jogar a paca n’água, vão dizer que não vai dar certo, porque és mais velha que eu. E não to nem ai. Para o amor não existe diferença de idade. Eu te quero de qualquer jeito, suada pelo sol do dia, molhada pela chuva da tarde. Quero-te de qualquer jeito, em qualquer horário. De short, calça comprida ou vestida... Claro se for de vestido e de chita será melhor...

Quero dançar contigo em qualquer local, no papa dime, locomotiva, shangrila, pagode chinês, chácara, maloca, terraço, grêmio literário português, sede do Papão, Serra Freire, Assembléia, Império pedreirense, subsa, carroceiros, benzinho, lapinha, quem são eles, só sei que não posso contigo me amofinar...

Quando estivermos juntos, depois da tigelada de açaí, na varanda ou pátio de qualquer feitio de casa, deitaremos na rede ouvindo Vavá da matinha, Alípio Martins, Ary Lobo, Paulo Andre, Ruy Barata na voz da Fafá, Nilson Chaves, Rafael Lima, Albinha, Lucinha Bastos, Walter Bandeira, Guilherme Coutinho, Nego Nelson, Salomão Habib, Billy Blanco, Waldemar Henrique, Proença e Adalcinda e tantos quantos cantarem a ti... Poesias de João de Jesus Paes Loureiro em suas travessias de Abaeté e caminhadas por teus espaços. Bruno de Menezes em seus Batuques e suas Marujadas... Tiraremos uma pestana, passaremos por uma madorma, seremos embalados pela chuva das duas...

Mas onde me embriago mesmo, é nesse teu passo de salto alto ou baixo, na tua plástica/plácida fisionomia, porém, a tua principal raiz ta fincada guardada na cidade velha. Donde o sabor do sol e do sal vem do porto molhado de suor/labuta...
Dos cânticos acompanhados dos campanários e toques de sinos das igrejas edificadas desde a beira do rio ate nas menores ruelas, por isso tens proteção há muito... Tem em teu corpo o cheiro de açaí no cacho... Em tuas veias escorre açaí do grosso... Pensa que num te espio é?

Sim, já vi teu peso com sabor de maresia, benzido em ervas/puçangas feitas bem ali na beira do teu cais. Cais donde germina vida vinda dos teus interiores, aonde barco chega e sai, donde a maré vem e vai...

Sei que não podes ser somente minha. Mas te quero assim mesmo, não quero ser ficante, te quero em todos os instantes da vida. Como te quero em durante certo tempo dos teus 400 anos de existência... Donde me lembro, te quero desde muito jitó, te quero desde quando Caldeira te fundou, te quero desde quando MalcherVinagre Angelim te defenderam... Desde ali já te desejava... Desde lá já declarava meu amor cabano a ti ...

Égua! Tu não sabias? Pois então, agora saiba que nossos passos estão marcados pelo ritmo carimbo chamegoso, nossos lábios estão grudados/tremidos de emoção e jambu. Nossas mãos estão entre dedos entrelaçados em pedras do Forte do Presépio, nossos corpos banhados pelas águas do guajará e nossa paixão/amor abençoada por Nazaré.

Vou te querer sempre Mulher Cabocla, Negra. Branca, Tapuia, Nativa Santa Maria de Belém do Grão Para. Parabéns! Viva teu aniversário. Viva aos teus 400 anos. Amo-te Belém...

3 comentários:

Unknown disse...

Osvaldo Simões, quero parabenizar por este texto/declaração de amor por Belém. Como sempre, nos teus textos, vc sempre consegue emocionar com a forma poética e a poesia em si nos textos. Parabéns.
Antes, esse texto carrega o histórico do lugar, tb, como sempre nos teus textos, a parte histórica, de lugares e personalidades deixam esse texto ainda mais brilhante.
Parabenizo vc pelas palavras e Belém pelos seus 400 anos. Somos todos cabanos.

fernando canto disse...

Parabéns pela sinceridade do amor nativo, pela linguagem poética própria para o dia dessa declaração. Abs.

Unknown disse...

Estou por aqui acompanhando suas publicações. Não há o que comentar. Temos que prestigiar.

Grande abraço do seu amigo Silvan Cardoso.