Hoje quando acordou, acordou com um gosto de lona na boca
e um sabor de picadeiro nos lábios. Olhou para o espelho, relíquia de sua
família e viu rugas em seu rosto. Bem no fundo de seus olhos uma tristeza que
não sabia por que ali estava.
Sentou-se a beira da companheira cama e começou a
rememorar sua vida. Desde os tempos de moleque em que aprendeu a dar saltos
mortais na moinha jogada na antiga praça do bairro. Viu suas irmãs com aquelas
roupas chamadas de duas peças, pequenas duas peças coloridas e umas sapatilhas
confeccionadas pelo antigo sapateiro da Rua São José.
Olhou seus braços, agora flácidos sem a musculatura de um
saltador, rapaz exímio atleta, o melhor fazedor de paradas de solo. Lembrou seu
pai preparando para saltar de um trapézio improvisado entre as árvores
existente no velho quintal.
Pensou em sua roupa colorida, paletó de um tecido chamado
de riscado, uma pequena gravata que se movimentava, pensou no sapato de língua
comprida, até mesmo naquele velho sapato furado, valia improvisar. O importante
era fazer rir...
Recordou os números circenses que realizava com as irmãs,
seu pai ficava deitado com as pernas levantadas, eles corriam na direção donde
estava o pai, ele com as pernas arremeçava- os longe, eles iam dando saltos no
ar. A vizinhança que assistia as apresentações ficava maravilhada. Só muito
depois que foram vê alguém realizar aquelas coisa denominadas de acrobacias,
nos filmes chineses...
Mas, agora estava ali no quarto, sozinho. Uma tristeza
invadia sua alma, uma saudade percorria seu corpo. Abriu a gaveta do velho
guarda roupa e reviu as antigas latas de maquiagem... Pensou nas estórias contadas
pelo pai, das viagens que fez nos grandes circos em que participou/trabalhou
como palhaço.
Mas um dia resolveu ficar na cidade de Macapá... Arranjou
emprego no GTFA e nunca mais conseguiu levantar sua lona e atravessar estradas,
muito menos, armar nas praças da cidade o Gran Circo de sua Vida... Pensou nas
promessas que fizera ao Pai: Um dia recupero a sua historia, serei o Palhaço
Trapezista do circo.
Hoje sozinho, é ele quem não consegue atravessar o
picadeiro da vida. Porem, ainda existe uma vontade louca de pinta a cara... Pois,
a imagem do pai que lhe acompanha é aquela de um homem de cara pintada fazendo
alegria a todos. .
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