Entenda a decisão do STF sobre responsabilização das redes
sociais
As plataformas serão responsabilizadas pelas postagens
ilegais se não retirarem do ar o conteúdo ilegal após receberem uma notificação
extrajudicial dos envolvidos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira
(26) que as plataformas que operam as redes sociais devem ser responsabilizadas
diretamente pelas postagens ilegais feitas por seus usuários.
A decisão da Corte é inédita e vai provocar alterações na
forma atuação das big techs no Brasil, um dos principais mercados para empresas
como o Google, que também opera o YouTube, além do TikTok e da Meta, empresa
que controla Facebook, Instagram e WhatsApp.
Por 8 votos 3, a maioria dos ministros entendeu que o Artigo
19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) é parcialmente constitucional.
Criada há mais de dez anos, a lei exige que haja uma ordem
judicial específica para a responsabilização civil das plataformas digitais por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros.
O texto original do dispositivo definia que as plataformas
só podem ser responsabilizadas pelas postagens de seus usuários se, após ordem
judicial, não tomarem providências para retirar o conteúdo ilegal. A
justificativa para a norma era assegurar a liberdade de expressão e impedir a
censura.
Contudo, a Corte entendeu que, diante das postagens massivas
de desinformação, com conteúdo antidemocrático e discursos de ódio, o artigo do
MCI não protege os direitos fundamentais e a democracia.
Dessa forma, as redes devem ser responsabilizadas pelas
postagens ilegais se não retirarem do ar o conteúdo ilegal após receberem uma
notificação extrajudicial dos envolvidos, sem necessidade de decisão judicial
prévia, como foi definido pelo Marco da Internet.
O principal ponto da decisão envolve a retirada imediata de
postagens com conteúdo de crimes graves. Em caso de descumprimento, as
plataformas deverão ser responsabilizadas pelos danos morais e materiais
causados pelos usuários a terceiros.
Para prever a punição, os ministros definiram um rol com as
seguintes postagens irregulares, que também poderão ser enquadradas no Código
Penal:
Atos antidemocráticos;
Crimes de terrorismo;
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou
automutilação;
Incitação à discriminação em razão de raça, cor, etnia,
religião, procedência nacional, sexualidade ou identidade de gênero (condutas
homofóbicas e transfóbicas);
Crimes praticados contra a mulher em razão da condição do
sexo feminino, inclusive conteúdos que propagam ódio ou aversão às mulheres;
Crimes sexuais contra pessoas vulneráveis, pornografia
infantil e crimes graves contra crianças e adolescentes
Logomarcas de
plataformas digitais e big techs Pixabay/Wikimedia
Replicações
O STF também definiu que as replicações de postagens que
foram declaradas ilegais pela Justiça devem ser retiradas por todos os
provedores, independentemente de novas decisões.
Impulsionamento
O Supremo definiu os casos em que as redes deverão responder
na Justiça independentemente de notificação. A situação vale para anúncios e
impulsionamentos pagos e uso de rede artificial de distribuição (chatbot ou
robôs) para a propagação das ilegalidades.
Crimes contra a honra
Nos casos envolvendo crimes de calúnia, difamação e injúria
cometidos por uma pessoa contra a outra, continua valendo a necessidade de
decisão judicial para retirada da postagens.
E-mail e WhatsApp
Por se tratar de mensagens privadas e do direito à
inviolabilidade do sigilo das comunicações, a maioria dos ministros decidiu que
os provedores de serviços de e-mail e de mensageria instantânea (WhatsApp e
Telegram) não respondem diretamente por conteúdos ilegais. Nesse caso, continua
valendo o Artigo 19.
Autorregulação
A decisão do STF também determina que as plataformas deverão
editar regras de autorregulação para dar transparência ao processo de
recebimento de notificações extrajudiciais, além de apresentarem relatórios
anuais sobre o tema.
Representante no Brasil
Embora a maioria das plataformas já tenha representantes no
Brasil, o STF também confirma que as plataformas devem constituir pessoa
jurídica no país e atender às determinações da Justiça, fornecer informações
sobre moderação de conteúdo e outras determinadas pela Justiça.
Validade
A decisão da Corte vai valer até que o Congresso elabore uma
lei para tratar da responsabilização.
"Enquanto não sobrevier nova legislação, o art. 19 do
MCI deve ser interpretado de forma que os provedores de aplicação de internet
estão sujeitos à responsabilização civil, ressalvada a aplicação das
disposições específicas da legislação eleitoral e os atos normativos expedidos
pelo TSE", definiu o STF.
A decisão da Corte deverá cumprida pelas plataformas a
partir de agora e não será aplicada em casos retroativos.
FONTE/CRÉDITOS: André
Richter - repórter da Agência Brasil
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